Os Museus de História e a Escrita do Passado Brasileiro
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Museu de Hamburgo. Janeiro de 2015 |
O museu de história mais interessante que já visitei é o Museum für Hamburgische Geschichte ou Museu de Hamburgo. Passei três meses estudando na cidade. Era inverno e eu morava perto. Com temperatura negativa e chuva constante, era uma das melhores opções para as horas vagas.
Situado em um charmoso prédio, construído com a finalidade de abrigar um museu, foi inaugurado em 1922, mesmo ano da inauguração do Museu Histórico Nacional no Rio de Janeiro.
É organizado de acordo com uma concepção moderna de História "numa construção linear e progressiva do tempo" (ABREU, 1994, p. 200). A exposição permanente começa no século VII, com o primeiro núcleo de fundação de Hamburgo, e vem até os dias atuais. Gosto desse museu, pois ele apresenta uma excelente exposição permanente sem grandes recursos tecnológicos, apenas com um museografia adequada.
Assistindo às apresentações dos colegas sobre o Museu Paulista e o Museu Histórico Nacional, vendo o programa Conhecendo Museus e lembrando dos museus históricos que já visitei, fiquei pensando que, mesmo que os museus históricos atuais adotem uma concepção moderna e crítica de história, há sempre um resquício do velho ponto de vista ético de Gustavo Barroso, da história como "mestra da vida". Em 1922, o Museu Histórico Nacional mostrava uma história que iniciara em 1808, e que destacava os grandes feitos e heróis da elite portuguesa e brasileira, com destaque para a família imperial (meio século de "bondade" nas palavras de Barroso). O Museu Paulista, ao se tornar museu histórico na mesma época, tratou de estabelecer o lugar e a importância de São Paulo para o desenvolvimento nacional e, que, não por acaso havia sido "o palco" da independência, depois que os heróis bandeirantes asseguraram a ocupação do território. Não conheço a exposição do Museu de Hamburgo em 1922. Mas imagino que destacasse o caráter Hanseático e Livre da cidade de Hamburgo e duvido que tivesse duas salas dedicadas aos judeus como a mostra atual.
Me pergunto se mesmo problematizando o acervo tradicional ligado à Independência (como diz a museóloga Cecília Sales Oliveira no programa Conhecendo Museus sobre o Ipiranga), dedicando salas às populações indígenas e aos direitos de cidadania, como o voto, no caso do Museu Histórico Nacional, e com quase um andar dedicado ao nazismo em Hamburgo, não existe também a ostentação de uma visão ética, de mostrar a história que é correta, que se espera que seja mostrada. É como se o museu histórico estivesse sempre um pouco atrasado em relação às discussões mais importantes da atualidade.
Falei isso ao meu filho de 19 anos e ele me respondeu: "mas é histórico, não mãe? Deve lidar com o passado". Esse é o problema. O museu histórico deve lidar com o presente. E com aceleração dos últimos tempos, creio que tem sido difícil acompanhar.
Não tenho respostas, mas depois dessas aulas e leituras percebo como aquelas exposições, tão singelas, que vemos nesses museus e até no nosso Julio de Castilhos envolvem questões complexas.
Bibliografia
ABREU, Regina. História de uma Coleção: Miguel Calmon e o Museu Histórico Nacional. Anais do Museu Paulista. São Paulo, v. 2, jan./dez. 1994, p. 199-233. Disponível em: http://www.reginaabreu.com/site/index.php/artigos1/item/108-historia-de-uma-colecao-miguel-calmon-e-o-museu-historico-nacional. Acesso em 12 de outubro de 2020.
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