Museus Pedagógicos Nacionais e Museus Escolares
![]() |
Quadro parietal Deyrrolle a venda no site por 12 Euros |
Há alguns anos tomei uma decisão equivocada por ter caído de amores por um museu escolar. Meu filho iria ingressar no primeiro ano do ensino fundamental e eu estava no processo de escolher um colégio. Entre os visitados estava o Colégio Anchieta. Na visita assisti a um filmezinho institucional, conversei com uma das orientadoras que me explicou o projeto pedagógico e o funcionamento da escola. A última etapa era uma visita ao museu. Fiquei totalmente encantada. Sempre gostei de ciências e estudar em uma escola que dispunha daquele maravilhoso espaço parecia um sonho. Tinha várias restrições à escola. Era muito grande. Não tinha uniforme. Era muito elitizada. Não era perto da minha casa. Mas tinha o museu.
Escolhi o Anchieta e não deu certo. No outro ano, passei meu guri para outra escola. Na entrevista do professor Jéter Bertoletti ele comenta que criou um museu de ciências no Colégio Julio de Castilhos (PIERRO, 2015), onde estudei. Mas na época em que estive no Julinho, esse museu não existia mais.
Na aula que tivemos com as pesquisadoras Pollynne Santanna e Alana Cioato, tive o prazer de saber por Alana mais sobre o museu do Anchieta, já mais que centenário. E constatar que, como quase todos os museus que visito, dependeu da paixão e do empenho, no caso, dos padres Pio Buck e Balduíno Rambo. Adorei ver as fotos antigas do museu e saber que grande parte do acervo mostrado nas fotos ainda se encontra lá.
Pollynne nos contou a respeito do Museu História Natural Louis Jacques Brunet localizado no Ginásio Pernambucano. Esse museu nasceu no contexto dos museus de ciência do século XIX no universo descrito por Maria Margaret Lopes na obra O Brasil descobre a pesquisa científica. O naturalista francês Louis Jacques Brunet formou o acervo inicial a partir de expedições para o interior de Pernambuco, para o Pará e o Amazonas. Lopes informa, inclusive, que Brunet era um dos colaboradores do Museu Nacional para onde remetia produtos de suas expedições (LOPES, 2009, p. 98). No momento, Pollynne estuda a coleção didática do Museu Brunet utilizada na década de 1930.
Aqui temos que entender o que se entende por museu escolar e por museu pedagógico. Marília Gabriela Petry e Vera Gaspar nos ensinam que o museu escolar "alojado dentro das instituições educativas, deveria servir professor e alunos para a realização de estudos pautados no concreto, isto é, agregar um conjunto de objetos para tornar a aprendizagem intuitiva" . O museu pedagógico "caracteriza-se como um centro de formação de professores, onde seriam desenvolvidos, testados, apresentados e difundidos novos métodos, mobiliários e instrumentos didáticos" (PETRY e GASPAR da Silva, 2013, p. 82). A professora Zita explicou como os museus pedagógicos nacionais foram tributários das exposições universais do século XIX. No Brasil, foi criado o Museu Escolar Nacional em 1883 e o Pedagogium em 1890. Petry e Gaspar apontam a confusão entre os termos, já que o Museu Escolar era, na verdade, pedagógico (PETRY e GASPAR da Silva, 2013, p. 83). O Pedagogium foi extinto em 1919.
Com respeito ao museu escolar, a professora Zita apontou seu caráter polissêmico. Eram denominados museus escolares coleções de imagens parietais produzidas localmente ou industrializadas, caixas de amostras de material de ciências naturais, armários envidraçados que continham coleções e que poderiam ficar na sala de aula ou em outro espaço, e espaços específicos para as coleções, como o museu do Colégio Anchieta e o Museu Louis Jacques Brunet.
Achei interessantíssimos os quadros parietais. Entrei no site da empresa Deyrolle, uma das que mais os fornecia para os museus escolares do Brasil e verifiquei que ainda são vendidos, muitos idênticos aos do século XIX. Vale a pena olhar esse site.
Olhando as imagens mostradas pela professora Zita e pelas pesquisadoras percebo que na minha vida de estudante ainda houve resquícios dos museus escolares. No Instituto de Educação General Flores da Cunha (IE) havia uma "sala de ciências" que não era um museu, mas lá havia animais em vidros em soluções de álcool, modelos tridimensionais de corpo humano, um esqueleto (julgo que não era de verdade), quadros parietais com sistemas do corpo humano. Às vezes, a professora nos levava lá para a aula. Adorávamos. Também no meu querido IE, que está tristemente abandonado, minha professora de matemática fazia conosco materiais que ficavam afixados nas paredes da sala de aula. Lembro do trabalho que deu para fazer uma reta numérica (aquela que contém todos os números reais) que passou a ocupar toda a lateral da sala de aula e como ficamos orgulhosos por tê-la feito tão bonita.
Mas nas minhas escolas não havia o museu escolar no sentido de espaço específico para as coleções. Deve ser por isso que me apaixonei pelo museu do Anchieta ao ponto de ter matriculado o meu filho lá. E eu que achava que eu não era desse tipo de mãe que quer realizar seus sonhos através dos filhos?
Gabinete de História Natural do Ginásio Republicano (1931-1934) Copiado de |
Bibliografia
LOPES, Maria Margaret. O Brasil descobre a pesquisa científica: os museus e as ciências naturais do século XIX. São Paulo: Aderaldo & Rothschild; Brasília: Ed. da UNB, 2009.
PETRY, Marilia Gabriela; SILVA, Vera Lucia Gaspar da. Museu escolar: sentidos, propostas e projetos para a escola primária (séculos 19 e 20). História da Educação, Porto Alegre v. 17 n. 41 Set./dez. 2013, p. 79-101.
PIERRO, Bruno de. Jeter Bertoletti: semeador de acervos. Revista Pesquisa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, São Paulo, Ed. 237, nov. 2015. Disponível em https://revistapesquisa.fapesp.br/jeter-bertoletti-semeador-de-acervos/. Acesso em 6 de setembro de 2020.
SANTANNA, Pollynne. O ontem e hoje do gabinete de história natural: um estudo de caso do Ginásio Pernambucano. BRITTO, Clovis Carvalho, NASCIMENTO, Marcelo, CUNHA, Bernardo da, CERÀVOLO, Suely Moraes. Estilhaços da memória: o Nordeste e a reescrita das práticas museais no Brasil. Goiânia: Editora Espaço Acadêmico; Salvador [BA]: Observatório da Museologia na Bahia [UFBA/CNPq], p. 120-138, 2020. Disponível em: https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/39425/1/LIVRO_EstilhacosMemoria.pdf Acesso em 20 de setembro de 2020.
Comentários
Postar um comentário